Retrospectiva 2025: os principais acontecimentos do broadcast na Grande São Paulo

A Região Metropolitana de São Paulo encerra 2025 vivendo um dos períodos mais intensos de transformação de seu ecossistema de comunicação desde a implantação da TV digital e do início da migração do rádio AM para o FM.

Ao longo do ano, o dial passou por desligamentos históricos, estreias relevantes, ativações no FM estendido e reposicionamentos estratégicos de grandes grupos de mídia. Paralelamente, a televisão aberta também viveu movimentos simbólicos e tecnológicos que sinalizam uma nova etapa para o setor.

A era do AM chegando ao fim

O ano de 2025 marcou o encerramento definitivo de sete estações de Ondas Médias na Grande São Paulo, consolidando a redução drástica dessa faixa no principal mercado radiofônico do país. Encerraram suas transmissões em Amplitude Modulada (AM) a Rádio Terra (660 KHz), Rádio Canção Nova (780 KHz), Super Rádio (1150 KHz), Super Rede Boa Vontade de Rádio (1260 KHz), Rádio Iguatemi (1330 KHz) e Rádio Da Cidade (1520 KHz). Já a Rádio Boa Nova (1450 KHz) fica no ar somente até 31 de dezembro. Todas já estão operando em FM.

Com esses desligamentos, o número de emissoras ativas em AM na região metropolitana caiu para apenas 12, reforçando o avanço do FM e das plataformas digitais.

Migração para o FM

Um dos marcos simbólicos de 2025 foi a estreia da histórica Rádio Record no FM estendido. Desde 1º de dezembro, a emissora passou a operar também em 77,1 MHz, frequência migrante do tradicional AM 1000 KHz. A emissora tem anunciado que uma nova programação está por vir.

Outro momento importante ocorreu em 5 de setembro, com a estreia da Rádio Canção Nova FM 85,9 MHz. Migrante da antiga 780 AM, a emissora deixou de utilizar o nome “Rádio América”, encerrando um ciclo de 80 anos de história sob essa denominação.

Em 17 de dezembro, foi a vez da Estilo FM entrar no ar em 79,1 MHz. A frequência, oriunda da antiga AM 1330 KHz — que já operou como Rádio Terra e Rádio Iguatemi —, passou a integrar o dial paulistano com programação musical adulta. A Estilo manterá a operação em 93,3 MHz, a partir de Mauá, garantindo ampla cobertura sobre as zonas leste e sul da capital, bem como em municípios vizinhos. O sinal da nova frequência 79,1 é irradiado a partir da Avenida Paulista.

O município de Guarulhos também teve destaque em 2025. Em novembro, entrou no ar a Rádio Da Cidade FM 91,7 MHz, migrante da antiga emissora em Ondas Tropicais de 3325 KHz. Trata-se da segunda rádio dessa faixa a concluir o processo de migração para o FM na Grande São Paulo. Sua programação é voltada ao jornalismo local, prestação de serviços e música popular.

Compra e reposicionamento de emissoras

O ano também foi marcado por importantes movimentações societárias. A principal delas foi a aquisição da Rede Transamérica pelo Grupo GC2, que já controla marcas como 89 FM, Alpha FM, Nativa FM e Rádio Disney. Em outubro, a tradicional Transamérica FM deu lugar à TMC, adotando um perfil editorial mais voltado ao jornalismo e ao esporte, encerrando um ciclo histórico da marca no dial paulistano e abrindo espaço para uma nova proposta no FM convencional.

Outro movimento relevante envolveu a Rádio Musical FM 105,7, adquirida por Antônio Camarotti, publisher da revista Forbes Brasil. Após a conclusão da negociação, em fevereiro, a emissora encerrou a veiculação de programas religiosos arrendados e iniciou uma programação musical de expectativa, com perfil adulto-contemporâneo. A Forbes Radio deve ser inaugurada em janeiro de 2026, com música e notícias, aproximando os universos editorial e radiofônico.

Outros movimentos no rádio

Em 8 de agosto, a frequência 102,1 MHz deixou de transmitir a Rádio Adore Mais e passou a veicular a programação da Super Rádio, em operação conjunta com a 80,7 FM.

Já em julho, a 96,5 FM deixou de transmitir a programação evangélica da Unidade FM e passou a operar apenas com programação musical gospel, sem locução. A emissora foi a primeira migrante de Ondas Tropicais para o FM no Brasil, tendo concluído esse processo ainda em 2024.

Televisão: passado, presente e futuro

O ano de 2025 também foi marcado por forte simbolismo para a televisão brasileira. Coincidindo com os 75 anos da primeira transmissão de TV no país — realizada pela TV Tupi - Canal 3, em 18 de setembro de 1950, a partir do bairro do Sumaré — tiveram início, em São Paulo, os testes da televisão de ultra-alta definição (TV 3.0).

De forma emblemática, uma das estações experimentais foi instalada justamente na torre do SBT, local que abrigou a histórica sede da antiga TV Tupi, reforçando a conexão entre o início da televisão no Brasil e a nova fase tecnológica do setor.

As transmissões experimentais realizadas em São Paulo também utilizam a infraestrutura da TV Record. A implantação oficial da TV 3.0 está prevista para junho de 2026. O projeto contempla recursos como interatividade avançada, maior qualidade de imagem e integração com a internet.

Ainda em 2025, o cenário televisivo foi ampliado com a estreia do canal X Sports, em 16 de agosto, no sistema de TV digital terrestre, canal 32.1. O canal, pertencente ao Grupo Kalunga, possui programação esportiva em parceria de conteúdo com a ESPN.

Outras movimentações incluíram a estreia da TV RCN no canal 36.3, voltada ao segmento religioso; a migração da Rede Mundial (Igreja Mundial do Poder de Deus) para o canal 33.1, substituindo a antiga ocupação da TopTV, Kiss TV e Astral TV; e a entrada no ar da COM Brasil TV, a rede de televisão pública e comunitária no Brasil. Seu sinal está sendo transmitido no multiplex da Rede Gospel, no canal 53.2.

Análise geral

O ano de 2025 consolida-se como um divisor de águas para o setor de radiodifusão na Grande São Paulo. O avanço do encerramento do AM, a consolidação do FM estendido e o reposicionamento estratégico de grandes grupos evidenciam uma reconfiguração profunda do mercado, marcada por busca de sustentabilidade econômica, modernização tecnológica e reposicionamento editorial.

No rádio, a migração não representa apenas uma mudança de faixa, mas uma reformulação de identidade, linguagem e modelo de negócios. Já na televisão, a convivência entre tradição e inovação — simbolizada pela celebração dos 75 anos da TV brasileira e pelos testes da TV 3.0 — reforça um cenário de transição estrutural, no qual passado e futuro se encontram.

O conjunto desses movimentos indica que o ecossistema de mídia paulista segue como laboratório das transformações do setor no Brasil, antecipando tendências que deverão se espalhar pelo restante do país nos próximos anos.

Os principais desafios das emissoras que operam no FM estendido para 2026 envolvem aspectos técnicos, comerciais e de mercado que ainda não estão plenamente resolvidos.

Primeiro, há a questão da compatibilidade dos receptores: muitos aparelhos de rádio domésticos e alguns modelos de veículos ainda não sintonizam a faixa de 76,1~ 87,3 MHz, o que limita a audiência potencial e a percepção de alcance pelo mercado anunciante. Apesar de normas para produção de rádios com suporte à faixa estendida, essa adaptação ainda não está universalizada, e essa lacuna pode persistir em 2026 se não for acelerada por meio de investimento em divulgação e execução de políticas para incentivos regulatórios.

Em segundo lugar, as emissoras do FMe ainda enfrentam desafios em consolidação de audiência e captação de receita publicitária. A migração do AM para o FM estendido implica reforçar a marca e comprovar relevância comercial em um ambiente competitivo que inclui rádio convencional, plataformas digitais e streaming. Sem métricas de audiência robustas e sem histórico de mercado comparável ao dial tradicional, essas estações podem continuar a ter dificuldades para atrair anunciantes de maior porte e negociar planos de mídia eficazes. Além disso, a necessidade de investimentos em estratégias híbridas de conteúdo (como streaming, presença digital e integração com aplicativos) será cada vez mais urgente manter e expandir audiências em um cenário de consumo multiplataforma.