TMC assume o lugar da Transamérica nesta segunda (13)
Por Maurício Viel
A icônica Rede Transamérica, uma das mais tradicionais emissoras de rádio do Brasil, está prestes a encerrar suas operações sob o nome histórico para dar lugar à TMC, novo projeto ambicioso liderado pelo empresário João Camargo. A transição marca o fim de 49 anos de história da Transamérica e o início de uma programação “disruptiva”, focada em jornalismo analítico, prestação de serviços e coberturas esportivas ao vivo. A TMC não vai tocar músicas.
A estreia está programada para esta segunda-feira, 13 de outubro, ocupando as frequências da antiga Transamérica em seis capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. Com o slogan “Transamérica agora é TMC. Quem escuta, sabe”, a emissora iniciou uma contagem regressiva em suas plataformas digitais desde 6 de outubro, com teasers visuais para gerar expectativa entre os ouvintes — embora a mudança ainda não esteja sendo divulgada na programação das emissoras.
Da Transamérica à TMC: a virada de chave
A decisão de encerrar a marca Transamérica foi confirmada no início de outubro pelo empresário João Camargo, do Grupo Esfera, atual controlador da emissora e ex-conselheiro-executivo da CNN Brasil, que deixou a emissora de TV para se dedicar integralmente à nova rede. Segundo ele, a TMC nasce com uma proposta editorial distinta da antecessora — voltada à informação, à análise e à cobertura esportiva e com um modelo de negócios multiplataforma, integrando rádio, vídeo e produção de conteúdo digital.
A Transamérica foi fundada há 49 anos por Aloysio de Andrade Faria, criador do Banco Real. A primeira emissora surgiu em Recife (PE), em 21 de agosto de 1976. Dois dias depois, Brasília (DF) também ganhou uma estação. Em 1977, foi a vez de Curitiba (PR) e São Paulo, seguidas pelo Rio de Janeiro (1978), Salvador (1980) e Belo Horizonte (1981).
Aloysio Faria vendeu o Banco Real ao grupo ABN AMRO em 1998 e, a partir disso, suas demais empresas passaram a compor o Conglomerado Financeiro Alfa, composto pelo Banco Alfa, rede de sorveterias La Basque, Hotel Transamérica São Paulo, o Transamérica Expo Center (São Paulo), C&C (Casa e Construção) e a Rede Transamérica de Rádio. Em 2000, o grupo criou também a TV Transamérica, em Curitiba.
Faria faleceu em 2020 e seus herdeiros iniciaram o processo de venda das empresas do grupo. Em 2024, a Transamérica Salvador foi vendida para um grupo de empresários locais. A compra das outras seis emissoras próprias da Rede Transamérica foi oficializada em fevereiro de 2025 pelo Grupo Camargo de Comunicação (GC2).
O novo controlador da rede optou por encerrar um projeto histórico e substituí-lo por uma proposta voltada à informação, análise e convergência de plataformas, apresentado como uma evolução estratégica para se alinhar aos novos hábitos de consumo de mídia e à demanda por informação em tempo real.
A Rede Transamérica construiu uma trajetória marcada pela inovação no formato musical e pela forte presença entre o público jovem, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990. Consolidou-se como uma das marcas mais emblemáticas do rádio FM brasileiro, unindo música, humor e esportes em rede nacional, com dezenas de afiliadas. Acompanhou o auge da cultura pop nas ondas do rádio e atravessou as transformações do meio até a era digital.
Seus estúdios em São Paulo acompanharam as transformações culturais e tecnológicas — da “explosão” do FM nos anos 1980 à expansão para múltiplas plataformas nas décadas seguintes. Programas memoráveis como Estúdio Ao Vivo (com atrações nacionais e internacionais), Clube da Insônia, Sarcófago e Adrenalina, marcaram época e ajudaram a moldar o estilo irreverente que caracterizou o rádio jovem brasileiro.
Nos últimos anos, além da tradicional faixa musical pop/rock, a cobertura esportiva manteve forte presença e consolidou nomes de destaque do jornalismo esportivo nacional.
Estrutura e plano de expansão
A matriz da TMC será em São Paulo e, por ora, continuará operando na antiga sede da Transamérica, no Alto da Lapa. Está prevista a mudança para a Av. Paulista em 2026, onde será instalada em um moderno espaço de 1.500 m² com redação, estúdios multimídia e infraestrutura para transmissões simultâneas em vídeo. O endereço exato ainda não foi divulgado.
Além de suas seis emissoras próprias, a TMC pretende iniciar com afiliadas em outras seis capitais. O plano nacional, no entanto, é ambicioso: alcançar até 500 emissoras parceiras nos próximos anos.
A direção-executiva será compartilhada entre João Camargo e seu irmão Neneto Camargo, que assume o posto de executive chairman. Outro nome confirmado é o publicitário Sérgio Valente (ex-DM9, Globo e JBS), responsável pela definição do modelo de marca e pela estratégia de posicionamento nacional. Neneto já possui experiência no gerenciamento de outras rádios do grupo em São Paulo, como Alpha FM, 89 FM - A Rádio Rock e Rádio Disney FM.
O GC2 também controla as frequências da Nativa FM (cujo conteúdo é gerado pelo Grupo Bandeirantes), além da AM 920 kHz (em Cotia, mas atualmente sem programação definida), TV Cotia (canal 49.1, arrendado para a TV Canção Nova) e TV FL, de Guarulhos (canal 58.1, atualmente fora do ar, mas que até recentemente arrendada para a Rede Século 21).
A TMC também contará com rostos e vozes conhecidos do jornalismo brasileiro. A programação incluirá colunas diárias de análise política nacional (Daniela Lima), política internacional (Jamil Chade) e filosofia aplicada ao noticiário (Luiz Felipe Pondé), além de uma faixa matinal comandada por Joana Treptow e Rodrigo Alvarez.
No esporte, a rede manterá as coberturas ao vivo, mas com ajustes na grade. Em São Paulo, programas como Esporte de Primeira, #DaBola e Resumo Esportivo serão descontinuados, enquanto os dois Papo de Craque permanecem.
O desafio de reinventar uma herança
Transformar uma marca tão tradicional quanto a Transamérica é um desafio que vai muito além da troca de nome. A emissora carrega um legado de mais de quatro décadas de identificação com o público jovem e musical — um patrimônio simbólico difícil de reconstruir do zero.
O novo projeto da TMC aposta na credibilidade e na agilidade da informação como diferenciais, buscando se posicionar no mesmo patamar de redes como CBN, BandNews FM e Jovem Pan News, mas com linguagem própria e foco na convergência entre rádio, vídeo e plataformas digitais.
Segundo João Camargo, o objetivo é criar “uma rede de comunicação contemporânea, capaz de dialogar com a audiência em múltiplas telas e formatos, sem abandonar o DNA do rádio ao vivo”.
As três letras da sigla TMC significam "Tradição, Movimento e Conexão". De acordo com o conceito central da nova identidade, “Tradição” faz referência ao legado da Transamérica; “Movimento” simboliza a adaptação à linguagem contemporânea; e “Conexão” sintetiza a presença da nova emissora em todas as plataformas e dispositivos.
A mudança, contudo, envolve riscos. A perda do público fiel à antiga identidade musical é uma possibilidade, assim como os desafios de implantação de uma rede jornalística em escala nacional. Além disso, a integração de afiliadas exigirá investimentos em estrutura técnica, treinamento e atualização de conteúdo.
A substituição pela TMC tem sido mal recebida por boa parte dos ouvintes, que expressam indignação e críticas nas redes sociais da Transamérica. Eles questionam a decisão de substituir uma emissora tradicional, construída ao longo de décadas, por um modelo saturado, voltado à informação e ao esporte.
Grade de Programação
A MC divulgou sua programação de estreia durante a tarde deste domingo (12). Vamos aos destaques (com informações do TudoRadio.com):
- Da Hora TMC – Diário (de hora em hora)
Boletins de 1 minuto com as principais notícias do Brasil e do mundo, transmitidos no rádio e nas plataformas digitais.
- Start TMC – Seg a sáb, das 6h às 7h
Resumo do dia anterior e os principais temas do novo dia. Participação de repórteres em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Curitiba e Belo Horizonte. Inclui blocos locais de prestação de serviço.
- TMC 360 – Seg a sáb, das 7h às 11h
Programa apresentado por Rodrigo Alvarez, Joana Treptow e Diego Sarza. Traz entrevistas, análises, debates e cobertura nacional e internacional com foco em política, economia, saúde, cultura, estilo de vida e mobilidade.
- Paulista TMC – Seg a sáb, das 11h às 12h
Noticiário local dedicado à cidade de São Paulo, com foco em trânsito, serviços públicos, saúde, educação e clubes esportivos paulistas. Contará com repórteres nas ruas e boletins nacionais.
- Papo de Craque TMC – 1º Tempo – Seg a sex, das 12h às 14h
Análises, debates e informações sobre futebol e esporte paulista. Atração traz boletins de utilidade pública e atualizações nacionais a cada 20 minutos.
- Link TMC – Seg a sex, das 14h30 às 17h
Resumo leve e analítico das principais notícias do dia, com entrevistas e temas em destaque nas redes sociais, política e cotidiano.
- Papo de Craque TMC – 2º Tempo – Seg a sex, das 17h às 20h
Programa esportivo com tom descontraído e bem-humorado. Mistura esporte, atualidades e entretenimento com entrevistas e conteúdo exclusivo.
- Expresso TMC – Seg a sex, das 20h às 21h
Jornal com abordagem direta e objetiva dos principais fatos do dia e os destaques previstos para o noticiário do dia seguinte.
- Ponto Final – Resumo do Dia TMC – Diário, das 22h à meia-noite
Encerramento da programação com resumo completo dos principais acontecimentos e análises com linguagem leve.
- A Cidade É Sua – Sáb, das 10h às 11h
Debates com autoridades municipais sobre projetos em andamento, desafios urbanos e participação do público com demandas das comunidades locais.
- 1 Semana em 1 Hora – Dom, das 9h às 10h
Resumo dos principais fatos da semana e análise antecipada dos temas que devem movimentar os próximos dias no Brasil e no mundo.
100,1 em São Paulo
A Transamérica iniciou transmissões experimentais em São Paulo em 1976, na frequência 95,3 mHz, e teve estreia oficial no ano seguinte. Nos primeiros anos, a programação tinha perfil adulto e sofisticado, voltado às classes A e B, com repertório de música brasileira e internacional moderna.
Na época, a rede ainda não era simultânea: a programação era gravada em São Paulo e enviada em fitas magnéticas às demais praças. Uma matéria do Diário de Pernambuco chegou a criticar o formato, alegando excesso de música “discothèque” e repetição de comerciais — um retrato do estilo original da emissora.
A troca da frequência para os atuais 100,1 MHz ocorreu na virada de 1979 para 1980.
Com o início das transmissões via satélite, em 1990, a Transamérica se tornou a primeira rede FM a gerar programação ao vivo e simultânea para várias cidades, consolidando-se nacionalmente.

Entre o final dos anos 1990 e o início dos 2000, a rede lançou três formatos segmentados: Transamérica Hits (popular), Transamérica Pop (pop, rock e dance) — gerada a partir de São Paulo — e Transamérica Light (adulto contemporâneo).
Entre 2005 e 2009, a Transamérica ousou ao manter uma emissora própria em Nagoya, no Japão. A chamada Transamérica Internacional contou com três retransmissoras pelo país.
Nos últimos meses, a Transamérica - 100,1 vinha investindo em infraestrutura técnica. Depois de mudar todo seu cabeamento interno para um sistema digital, em março de 2025 inaugurou uma nova antena, fabricada pela norte-americana Jampro, em substituição ao modelo anterior da Shively Labs, que estava em operação desde 1989.
Agora, fica a dúvida sobre o destino desse imponente equipamento no Alto da Lapa, especialmente diante dos planos do Grupo GC2 de transferir a sede da TMC para a Av. Paulista.
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