Especial: Rádios-tributo resgatam memória da FM paulistana no ambiente digital

Por Maurício Viel

Há décadas, algumas das estações mais marcantes do dial paulistano se calaram, deixando lembranças, vozes na memória e melodias que ainda hoje insistem em tocar dentro da gente. Agora, graças à internet e à paixão de ouvintes que se recusaram a deixá-las desaparecer, é possível matar a saudade e reviver a emoção de sintonizar rádios que já não existem mais — com uma diferença: no lugar do botão de sintonia, há um botão chamado play.

Projetos de webrádios-tributo estão devolvendo vida àquilo que o tempo levou: a identidade dessas emissoras marcantes e inspiradoras. Agora, podemos ouvir novamente o pop/rock internacional 70/80 da Difusora 960 (Jet Music), as paisagens sonoras e instrumentais da Scalla FM, o espírito rocker da FM 97 e da Brasil 2000 FM, além da elegância dançante da Pool FM.

Em geral, as webrádios-tributo preservam as vinhetas, o clima, o repertório e até a alma de cada rádio — recriando a sensação indescritível de estar, mais uma vez, diante do aparelho receptor, girando o dial em busca daquele refúgio musical. Algumas contam até com locuções. É como abrir uma janela no tempo e ouvir, intacta, a trilha sonora de uma era.

A seguir, vamos viajar por alguns desses projetos e revisitar um passado que volta a soar como presente. Prepare-se, pois os anos 70, 80 e 90 estão de volta… e lembre-se: só é preciso dar o play.

Pool FM: A energia das pistas no ar

A Pool FM surgiu como um raro experimento de rádio de pista no dial paulistano. Foi patrocinada pelo jeans Pool, provavelmente o primeiro contrato de name rights do rádio brasileiro. Na fase de operação em 89,1 MHz (1984/85), a emissora conectou o ouvinte às sonoridades da disco, do funk e do dance que tocavam nos clubes, com DJs e remixes como linguagem central — algo ousado para o FM comercial da época. DJs famosos como Irai Campos, Ricardo Guedes e Julinho Mazzei eram grandes atrações da emissora. A iniciativa foi da família Camargo, hoje denominada Grupo GC2, à frente de diversas emissoras de rádio, como Alpha FM, a própria 89 FM, Rádio Disney, TMC (antiga Transamérica), entre outras.

O projeto original da Pool ficou apenas 13 meses no ar, descontinuado em dezembro de 1985 para dar espaço à 89 FM (rock). Mas a Pool voltou em 1995, nos 95,3 MHz, agora com uma curadoria mais clubber (house/garage/black), ainda mais seletiva e dirigida a entusiastas e profissionais de música de pista. Mais uma vez, entretanto, o projeto foi curto e cedeu espaço a uma estratégia adulta, a Opus FM, esta que logo se tornou na popular Nativa FM, com sertanejo e hits românticos.

Na era digital, a Pool FM encontrou uma nova forma de existir: uma incrível webrádio, fruto da dedicação do empresário Marcelo Tibério, que decidiu manter viva a memória da emissora. "Gostava tanto que resolvi refazer a emissora via internet, com um amigo. Comprei o nome da rádio e mantive a programação musical do jeitinho que era", conta.

Esse renascimento digital já tem 20 anos no ar e permite revisitar a estética original da rádio, preservando a identidade dançante e sofisticada que a marcou nos anos 1980 e 1990. A diferença é que, agora, não há a limitação do dial FM — a transmissão na internet oferece alcance global e liberdade total de curadoria. A qualidade técnica da Pool FM online é comparável à de emissoras de grandes grupos de comunicação.

O slogan "Energia no Ar" da Pool original foi mantido, assim como seu logotipo, que passou apenas por alguns ajustes.

A atual versão online da Pool FM mantém viva a essência que consagrou a emissora nos anos 1980 e 1990, baseada em uma programação sofisticada de disco, funk, soul e house. A webrádio virou uma empresa e conta até com uma equipe de apresentadores, entre eles, Ruy Balla, Paulinho Ribeiro, Akeen e Jeff Fernandes. As playlists priorizam os clássicos, reafirmando a identidade da rádio como guardiã de um repertório de pistas que marcou gerações.

Faixas de artistas como Malcolm McLaren, Kurtis Blow e Jimmy Bo Horne aparecem lado a lado com produções contemporâneas de DJs como Mark Knight & Funkagenda e Matvey Emerson, demonstrando que a emissora não se limita a um simples resgate nostálgico, mas também se abre para a cena atual da música eletrônica.

O resultado é uma programação equilibrada, fiel ao espírito original da Pool FM, mas que dialoga com a evolução da música de pista. Assim, a versão webrádio-tributo da antiga emissora se consolida como um espaço de memória viva e renovação cultural, unindo o passado e o presente da dance music com elegância e coerência.

Ouça a Pool FM (Pool Webrádio) em poolfm.com.br e nos apps Pool FM, RadiosNet, RadioBoxTuneIn.

Difusora 960 - Jet Music: Dançando nas ondas do AM

A PRF-3 Rádio Difusora AM 960 kHz, fundada em 1934 no bairro do Sumaré, em São Paulo, tornou-se uma das emissoras mais influentes da história do rádio brasileiro. Surgiu como um dos principais veículos de comunicação do país, destacando-se pelo pioneirismo técnico e pela programação moderna. Em 1943, foi adquirida por Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, passando a dividir espaço com a Rádio Tupi na célebre “Cidade do Rádio”, no Sumaré — símbolo da era de ouro da radiodifusão paulistana.


Durante as décadas seguintes, a Difusora foi se reinventando. Em 1963, lançou a marca “Nova Difusora”, com noticiários curtos e maior espaço para música gravada, acompanhando as transformações culturais do período. Mas foi a partir de 1968 que a emissora deu um salto criativo com o formato “Plenimúsica”, idealizado pelo produtor José Mauro. A fórmula de blocos musicais contínuos intercalados com os boletins noticiosos “Factorama”, de hora em hora, resultou em grande audiência e faturamento, abrindo caminho para a fase mais marcante da Difusora.

Em 1969, sob a superintendência de Orlando Negrão Jr. (que mais tarde fundaria a Antena 1) e direção artística de Cayon Gadia, a Difusora estreou a icônica programação “Jet Music” — um conceito de rádio jovem, vibrante e cosmopolita. Voltada ao público urbano e conectado às tendências internacionais, a Jet Music investiu em black music, soul e lançamentos pop/rock vindos dos Estados Unidos e Inglaterra, numa época em que poucas emissoras tinham acesso direto às novidades do exterior. Para isso, firmou uma parceria inédita com a Varig, que trazia os discos recém-lançados diretamente de Nova York e Londres.

A locução também inovou: os comunicadores adotaram um tom natural e entusiasmado, distante da formalidade tradicional do rádio AM. Essa linguagem mais próxima do público jovem se tornaria referência para o futuro do rádio FM brasileiro. Entre as vozes que marcaram época estavam Dárcio Arruda, Jorge Helal, Antônio Viviani, Carlos Racy, Ângelo Vizarro Jr., Henrique Régis e Moisés da Rocha.

Em 1970, os Diários Associados ampliaram o projeto com o lançamento da Difusora FM 98,5 MHz, voltada às classes A/B, enquanto o AM seguia firme com o selo “Jet Music”. A Difusora Jet Music liderou a chamada “era de ouro do rádio pop”, influenciando concorrentes como a Rádio Excelsior, que reagiu com seu próprio formato jovem, a “Máquina do Som”.

Em 1980, a programação “Jet Music” migrou para a Difusora FM 98,5 e a operação da Difusora AM voltou-se para o jornalismo, prestação de serviços, música MPB e jornadas esportivas.

No entanto, em 3 de setembro de 1981, as rádios Difusora AM e FM foram retiradas do ar por determinação federal, após a cassação que atingiu a principal emissora do grupo — a TV Tupi. 

Uma trajetória de inovação e influência foi encerrada, mas, ainda assim, o legado da “Jet Music” ficou vivo, inclusive pela própria Antena 1 FM. Mas agora, décadas depois, a alma da Difusora está reencarnada na Difusora 960 Webrádio, criada em 2013 por José Daud Cremonesi, fã e pesquisador da antiga emissora.

O projeto reproduz o espírito original da “Jet Music”, com as mesmas seleções musicais, vinhetas e até comerciais históricos de produtos como Bala de Leite Kids, Sukita e Café Seleto. Não há locução.

O site oficial inclui seções sobre a história e locutores da emissora, um mural interativo e uma loja virtual com camisetas e objetos com a logomarca original — um tributo nostálgico à rádio que ensinou São Paulo a falar, dançar e sonhar no ritmo do pop.

A Rádio Difusora Jet Music não foi apenas uma emissora: foi um marco cultural que ajudou a moldar o som e a linguagem de uma geração — e que, mesmo fora do ar há mais de 40 anos, segue viva no imaginário dos que viveram o auge da música jovem no AM paulistano.

Ouça a Difusora 960 em difusora960.com e nos apps RadiosNet e TuneIn.

FM 97 / 97 Rock: O ABC do rock

“Sintonia direta, emoção tete a tete. FM stereo: 97”. A história da FM 97 começou em setembro de 1983, em Santo André, no segundo andar do icônico “prédio redondo” da Av. Gilda. A emissora surgiu como concessão do empresário José Antônio Constantino, mas quem assumiu o comando do projeto foi seu filho, Zezinho Constantino, então com apenas 23 anos. Jovem, audacioso e apaixonado por rock, ele fez literalmente de tudo nos primeiros meses: escolhia as músicas — usando seus próprios discos —, montava a programação e ainda ligava e desligava o transmissor. O resultado foi uma rádio movida por entusiasmo, espontaneidade e espírito independente.

Logo nos primeiros anos, a FM 97 consolidou uma identidade musical distinta das grandes FMs da capital. Com locutores marcantes como Jota Erre, Ciro Bottini, Leopoldo Rey (com o Rock Sandwich e o Reynação) e Vitão Bonesso (Backstage), a emissora tornou-se referência em rock e música alternativa. Ali havia espaço para o experimental e para o inusitado — e isso conquistou uma geração no ABC Paulista. A FM 97 também ajudou a moldar a cena local ao promover shows, festas e eventos que impulsionaram o surgimento de novas bandas.

Pioneira, foi uma das primeiras rádios brasileiras dedicadas integralmente ao rock, misturando progressivo, hard rock, sonoridades alternativas e faixas não comerciais. Essa autenticidade construiu uma comunidade de ouvintes fiéis, que até hoje recorda as transmissões ao vivo e as festas que marcaram época no ABC.

No início dos anos 1990, a FM 97 transferiu seus estúdios e transmissores de Santo André para a Av. Dr. Arnaldo, em São Paulo, adotando o nome 97 Rock. Em dezembro de 1994, porém, a emissora viveu uma virada decisiva: deixou o rock e mergulhou na música eletrônica — eurodance, house e dance-music — transformando-se na Hot Nine Seven, embrião da futura Energia 97 FM. A decisão foi estratégica: segundo o próprio Constantino, o mercado do rock se mostrava limitado para sustentar o negócio. A guinada encerrou um ciclo, mas deixou uma marca indelével no rádio alternativo brasileiro.

Décadas depois, essa herança ganhou novo fôlego com a 97 Rock Web Rádio, transmitida 24 horas pela internet. A proposta é clara: resgatar a memória da antiga FM 97 com uma seleção de clássicos dos anos 70, 80 e 90, misturando grandes nomes do rock a artistas independentes. Sem locução, a programação aposta em playlists temáticas e atua como uma verdadeira curadora cultural, preservando o espírito livre e roqueiro que marcou a emissora original.

Mais do que nostalgia, essa retomada digital representa a sobrevivência de uma estética e de uma atitude. Mesmo que o alcance já não seja o mesmo do tempo do dial, a 97 Rock reafirma o valor de uma geração que acreditava no rádio como espaço de descoberta, rebeldia e paixão pela música. No ABC — e muito além — a FM 97 continua ecoando: agora nas ondas da memória e da web.

Ouça a 97 Rock em 97rockwebradio.com e nos apps RadiosNet e RadioBox.

Rádio Brasil 2000: College radio que virou cult

Entre as rádios mais emblemáticas do rock alternativo paulistano, a Brasil 2000 FM (107,3 MHz) ocupou um lugar de destaque. Sua história mistura ousadia, espírito universitário e uma curadoria musical que desafiava os padrões do FM comercial.

Afiliada à Faculdade Anhembi-Morumbi, a emissora foi pioneira ao operar com CDs, apresentando-se como Brasil 2000 FM Stereo Laser. Programas como A Força do Jazz e O Blues das Sextas, sob o comando de Wilson Versolato, ampliaram os horizontes da rádio em sua fase inicial.

A partir de 1989, sob a direção de Roberto Maia, do jornalista e professor da Anhembi-Morumbi, a Brasil 2000 se reinventou como a primeira college radio do Brasil, inspirada em modelos americanos que valorizam a experimentação e a diversidade sonora. Com uma forte identidade alternativa, a rádio abraçou gêneros como rock, indie, ska, soul e hip-hop, consolidando uma programação plural e moderna. Programas como Caminhos do Rock, 2000 Volts e Noites Futuristas conquistaram uma grande audiência e renderam à emissora duas premiações da APCA, também graças à sua linguagem jornalística inovadora.

Em seu auge, a Brasil 2000 foi uma referência para quem buscava repertórios diferenciados, lançando tendências e expandindo o cenário alternativo. Além de Roberto Maia, nomes importantes como Tatola, Sônia Abreu e Kid Vinil passaram pelos microfones da emissora. Nos anos 2000, o irreverente programa Garagem, apresentado por André Barcinski e Paulo César Martin, ia ao ar semanalmente visando atingir o público do rock alternativo.

No entanto, nos anos 2000, ironicamente, a rádio enfrentou instabilidades financeiras e, consequentemente, a saída de profissionais-chave e a gradual perda de sua identidade, com o esvaziamento da locução e dos programas especializados. Tatola era locutor e agente comercial e acabou se desentendendo e foi embora em 2001. Roberto Maia ainda ficou mais um pouco. Apesar da boa programação musical, restaram poucos locutores ao vivo no ar e a emissora foi perdendo força ao longo dos anos.

Em 2006, a programação da Brasil 2000 no dial chegou ao fim. A emissora passou a operar simplesmente como FM 107.3, aguardando um eventual contrato para arrendar seus horários. Chegou a retransmitir a programação da Rádio Bandeirantes e, desde 2011, seus horários são ocupados pela tradicional Rádio Eldorado FM.

Após sair do dial, a Brasil 2000 resistiu por alguns anos como webrádio, produzida pelo seu locutor mais antigo, Osmar Santos Jr. Contudo, o projeto web foi encerrado definitivamente em 2016, tornando-se uma lembrança cult na memória dos ouvintes mais fiéis.

Recentemente, o nome da Brasil 2000 ressurgiu em uma nova webrádio, que também mantém o slogan "Rock pra Todos". O novo projeto oferece um site com o player da rádio, bem como notícias atualizadas do mundo do rock, promoções e interação com os ouvintes. Nas redes sociais da nova webrádio, há menções de que “após anos fora do dial, a lendária Rádio Brasil 2000 FM está de volta”. Entretanto, sabe-se que se trata de um novo projeto, sem vínculos com a antiga emissora.

A versão tributo da antiga Brasil 2000 FM resgata apenas parte da essência da emissora original, limitando-se às playlists que misturam rock clássico com o rock alternativo dos anos 90 e 2000. Embora o repertório mantenha um fio de continuidade com a proposta musical que tornou a rádio conhecida, a ausência de locuções, programas e vinhetas características cria uma experiência incompleta, mais próxima de uma curadoria musical genérica do que de uma recriação histórica. Trata-se, portanto, de uma homenagem que preserva o som, mas não o espírito — uma lembrança auditiva, porém sem o carisma, a identidade e a personalidade que faziam da Brasil 2000 muito mais do que apenas uma sequência de músicas.

Ouça a Rádio Brasil 2000 em brasil2000fm.com.br nos apps RadiosNet e RadioBox.

Scala 99 FM/Scalla FM: Instrumental a serviço dos bons momentos

No início dos anos 1980, o FM vivia sua expansão definitiva como meio de transmissão em alta fidelidade no Brasil. Foi nesse contexto que nasceu, em dezembro de 1982, a Rádio Diário do Grande ABC FM, em 99,3 MHz, diretamente ligada ao tradicional jornal Diário do Grande ABC. Sediada em Santo André, a emissora se diferenciava por uma proposta sofisticada: trilhas instrumentais, arranjos orquestrais e clima ambiente — linguagem que mais tarde seria associada ao conceito de easy listening. O formato, somado à estética serena das vinhetas e das locuções, consolidou a imagem de uma rádio de companhia, elegante, contemplativa e associada a momentos de serenidade da vida cotidiana. Ouvi-la em táxis, consultórios e almoços de domingo tornou-se comum. Para muitos, sintonizar a emissora era também um símbolo de status.


Com a consolidação do projeto, a marca adotou o nome Grande ABC FM. Mas a alteração mais importante veio em 1988, quando a emissora se mudou para a Av. Paulista, em São Paulo, assumindo alcance em toda Região Metropolitana e assumindo uma nova marca: Scala 99 FM. A essência, no entanto, permaneceu intacta — uma trilha para o cotidiano, lembrada até hoje por transmitir tranquilidade e sofisticação.

Pelos nomes dos programas, é possível contemplar o quanto era especial a programação da Scala 99: A Grande Festa das Big Bands, A Música de Todos os Tempos, A Música de Hoje e de Sempre, Almoço com Música, As Grandes Valsas, Chansons D’Amour, Domingo na Praça, Lembranças Musicais da Itália, Música ao Cair da Tarde, Música para Ouvir e Sonhar, O Fascinante Mundo da Música, O Melhor da Música Romântica, Os Grandes Mestres da Música, Primeira Classe.

No ano de 1995, entretanto, a frequência de 99,3 MHz foi vendida para o segmento religioso, encerrando o ciclo iniciado pelo projeto original do Diário do Grande ABC.

A fase “Scalla” com dois L

Foi grande o legado deixado pela Scala 99 FM (por vezes chamada somente de “Scala FM”), algo que, um ano depois, levou a Rede CBS – Comunicações Brasil Sat (atual Rede Mundial de Comunicações) criar a Rádio Scalla FM — com dois “l” —, mantendo praticamente a mesma proposta instrumental, ainda que em uma operação marcada por intermitências. 

O grupo, que é detentor de vasta rede de emissoras espalhadas pelo país, principalmente no estado de São Paulo, tem como característica a alta volatilidade de seus projetos entre suas emissoras. Com isso, a Scalla FM passou pelos 92,5 MHz (São Paulo), 95,7 MHz (Jundiaí), 100,5 MHz (Sorocaba), 102,1 MHz (Arujá), entre outras. A última presença na capital paulista foi em 2008, quando a frequência de 92,5 deu lugar à Mit FM.

Em 2025, após um longo período fora de operação, a Scalla está mantendo sua versão online no ar. E, surpreendentemente, voltou ao dial no mês de outubro, em duas regiões, nas frequências de 102,9 MHz (Baixada Santista) e 96,5 MHz (Sumaré/SP).

A versão tributo: memória preservada

No ar há 11 anos, a Scalla Internet Rádio é uma webrádio-tributo dedicada a manter vivo o espírito instrumental das duas versões da Rádio Scalla. Utiliza algumas vinhetas originais e, a cada hora, durante a identificação da emissora, executa a trilha da icônica “Concerto Pour Une Voix”, de Saint-Preux — marca registrada da Scalla original.

O projeto é mantido por Tiago Alves, que cresceu ouvindo a Scalla nos anos 2000 e sonhava em um dia trabalhar na emissora.

“Criar uma versão da Scalla não foi planejado, mas foi sonhado. Jamais imaginei que um dia realmente teria a oportunidade de montar uma webrádio”, conta Tiago.

A história começa em 2008, quando a Rede CBS retirou a Rádio Scalla do dial, mantendo apenas uma presença instável na internet. Inspirado pela ausência da emissora, Tiago descobriu que também poderia transmitir música online e, no ano seguinte, lançou a Eternal Music Webrádio, projeto fortemente inspirado na estética da Scalla.

“Fui maturando a ideia de ter minha própria rádio nos moldes da Scalla, mas sem intenção de fazer concorrência. Seria apenas uma opção a mais para os ouvintes”, relembra.

Em meados de 2014, a Scalla estava sem transmitir pela internet havia alguns meses. Como fã da emissora, Tiago tomou a decisão de encerrar a Eternal Music e iniciar uma webrádio-tributo da Scalla, com o objetivo claro de preservar com solidez a memória e o legado sonora de uma emissora que marcou gerações.

Hoje, a Scalla Internet Rádio funciona como uma ponte entre o passado e o presente: mantém viva a trilha sonora da elegância dos anos 80, agora sem fronteiras geográficas e disponível 24 horas por dia no universo do streaming. Sua audiência é expressiva, alcançando picos de mais de 300 ouvintes simultâneos.

Sobre o retorno do público, Tiago afirma que a avaliação é 98% positiva. “A maioria se sente grata por ter de volta o som das orquestras que ecoavam nos lares de muitos paulistanos nos anos 80 e 90. Muita gente é atraída apenas pelo saudoso e marcante prefixo de hora em hora da rádio.”

Para Tiago, a qualidade de áudio é outro grande diferencial da emissora: "É uma das poucas rádios na web com excelente qualidade sonora. Nem as grandes rádios têm mantido um padrão elevado em suas transmissões, o que acaba afastando o público — especialmente nesse estilo de música.”

Ouça a Rádio Scalla em radioscalla.com nos apps RadiosNet e RadioBox.

Um clique para voltar no tempo

O movimento das rádios-tributo na internet tem se multiplicado e revelado muito mais do que simples nostalgia: é uma forma de resistência cultural, um gesto de preservação afetiva e histórica.

Esses projetos mostram a força da memória afetiva e como emissoras que marcaram época podem renascer digitalmente — mesmo que não sejam oficiais —, encontrando um público fiel e até mesmo alcançando novas gerações.

Ao renascerem na internet, emissoras como Pool FM, Difusora 960, FM 97, Brasil 2000 FM e Scalla FM provam que o rádio, mesmo fora do dial, continua pulsando — agora sem limites de alcance e tempo. Esses projetos, criados por ouvintes da época, recuperam sons e atmosferas que marcaram a vida de gerações, oferecendo uma nova escuta para um velho encantamento.

Cada uma dessas iniciativas reafirma o poder da memória sonora e a capacidade do rádio de se reinventar — atravessando décadas, tecnologias e formatos. Se antes bastava girar o dial para encontrar companhia, hoje basta um clique para reviver a emoção de um tempo em que a música unia pessoas, cidades e sonhos. O rádio mudou de frequência, mas nunca deixou de tocar.

Quem sabe ainda surjam tributos às rádios paulistanas Cidade, Excelsior, Manchete, Musical MPB, FM Record, Nova FM e até Transamérica?

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